top of page

Pajau Yan - Dama da Lua

Mudanças são inevitáveis. Gire com a mudança, assim como a Lua gira no céu. Se entender isso, ficará em paz!

Recentemente me veio uma Deusa que até então desconhecia, mas que achei a energia Dela bastante suave, reconfortante e singela. Assim como somos iluminados pela Lua, com sua luz cálida sem ser extremada, Ela me trouxe bastante benevolência e gostaria de compartilhar um pouco do que conheci sobre Ela com vocês.

Pajau Yan é seu nome. É a Deusa da Lua e dos Ciclos e hoje seu culto quase que se perdeu no tempo. O mundo está tão ocupado em conseguir riquezas que tem deixado de relembrar o poder e majestade dos Antigos, no qual Pajau Yan se encerra bem.

 

Quem é Ela?

Pajau Yan é uma Deusa cultuada pelos povos Cham. Esses povos, antes bastante apegados a divindades que presidiam sobre as forças da Natureza, foram convertidos à religião muçulmana e se afastaram do antigo culto. Saíram de seu lugar de origem no Vietnã e migraram para algumas partes do Camboja onde habitam até hoje.

Ela é uma Deusa que têm Sua influência maior para questões consideradas femininas, como a fertilidade, bondade, alegria, beleza, cura, vida e morte, além de ser uma deidade lunar.

 

Seu Poder e Influência

Por tratar do tema ciclos, Pajau Yan ensina que independente do que estejamos passando no momento a Roda da Vida gira e, podemos até estar em um momento ruim, contudo, tudo se ajeitará. Dessa forma, uma promessa que Ela garante aos Seus adoradores é a da boa fortuna. Quando digo boa fortuna podemos entender aqui no contexto romano quando se fala de fortuna, ou seja, não de riqueza material, mas de boa sorte. Mudanças positivas que o destino traz a nós.

Além disso, Seu mito nos conta que Ela foi uma das divindades responsáveis pela criação e que por amar demais os seres que havia criado, quando estes morriam Ela os dava vida novamente e nada se findava. Como castigo por isso, porque tudo precisa ter um início e fim para que outro início possa se fazer presente, Ela foi exilada na Lua. Assim foi feito, mas Ela nunca deixou de olhar pelos viventes. Então, quando morremos, Pajau Yan nos oferece flores para nosso descanso em paz, haja visto que as flores são um dos maiores símbolos de paz, pureza e tranquilidade, independentemente de cultura e credo.

O que é a morte se não mais uma etapa da existência? Saber reconhecer isso e estar em paz com esse fato é uma das coisas mais belas que Pajau Yan pode nos conceder, pois, querendo ou não, todos tememos a morte. É algo desconhecido a nós nesse momento da existência porque fomos bloqueados de nos lembrarmos de nossas vidas anteriores. Pajau Yan vem então com sua mansidão e suavidade para apaziguar quaisquer medos e receios. “Não tema. Apenas se entregue a mais essa etapa de sua vida.” – é o que Ela diz.

Se há eclipses lunares, é quando Pajau Yan se recolhe e honra o Sol. Com isso Ela também nos mostra o poder da humildade e do reconhecimento do valor do próximo, pois do contrário Ela nem sequer teria aceitado sua “punição”. Compreendendo os ciclos e estando em paz com eles é possível percebermos que cada momento é exclusivo em si mesmo e que não devemos lutar por algo que já passou, mas estar em tranquilidade com o que se tem hoje e agora. Sua humildade em honrar o Sol atesta isso, pois há o momento de se honrar a Lua e o momento de honrar o Sol, momento de honrar a Deusa e momento de honrar o Deus.

E isso é algo a se levar bastante em consideração, pois quantos de nós estamos bem com essa ideia? Quantos de nós sabemos que o masculino é tão importante quanto o feminino e o reconhecemos? Esse questionamento é ainda mais válido para os pagãos porque na busca desenfreada pelo culto à Deusa, como forma de compensação pelo grande tempo de patriarcado, esquecem que independente de como a sociedade tem se comportado todos nós temos ambas as polaridades energéticas (Yin / Yang, Deusa / Deus) dentro de nós e ambos precisam ser honrados. Há momentos de Sabbat (celebrações ao Sol / Deus) e momentos de Esbat (celebrações à Lua / Deusa).

 

Oferendas e Culto

Vestido inspirado no mito de Pajau Yan

O culto à Pajau Yan sempre foi um dos mais singelos para o povo Cham, dessa forma, as oferendas à Ela nunca consistiram de algo difícil a ser executado ou cheio de meandros. Para honrá-la bastava oferecer flores, de preferência silvestres, incenso, frutas e água.

Para honrá-la, então, podemos oferecer esses itens, com as flores sendo algumas nativas do Vietnã: Clerodendro Branco, Hortênsia Filipina, Jasmim Leite, Magnólia Amarela, Flor de Pagode, Tungue ou Pata de Vaca. Mas, como Pajau Yan não é uma Deusa que cobra muito dos fiéis, haja visto que sempre foi adorada por povos simples e geralmente pobres , você pode ofertar também flores fáceis de encontrar aqui no Brasil, como: Dama da Noite, Jasmim e Lavanda. Claro, se quiser oferecer algo mais requintado, Ela também aceitará, mas o que mais a agrada são as coisas simples feitas de coração.

Assim como acontece com as flores, as frutas podem ser as mais tropicais possíveis da nossa região. Mas, se quiser oferecer algo mais tradicional à Ela, oferte Maçã de Ouro ou Pitaia. Já a água, como é bem sabido, tem muita ligação com a Lua, pois é nosso satélite natural que controla o fluxo das marés no planeta. E os incensos sempre de aromas agradáveis, suaves e, de preferência, florais. Ela é uma Deusa que não aceita sacrifícios de carne e sangue.

Seu culto ocorria geralmente no primeiro dia de Lua Minguante e os pedidos feitos à Ela devem ser realizados em papel simples, escritos à mão e entregues em alguma fonte de água, como rios, lagos ou no próprio mar.

Um adendo bastante importante de atenção que faço aqui é o cuidado em não utilizarmos nossos conceitos neopagãos de Donzela, Mãe e Anciã para tentar compreender essa Deusa. Ela não é uma Deusa Velha, como conhecemos a Anciã que é representada pela Lua Minguante, mas é uma Deusa Mãe com todos os atributos de criadora que possui. É apenas relacionada à Lua Minguante porque vem nos ensinar sobre os ciclos e sobre estar em paz com a morte. Então, ao iniciarem o culto ou estudo de alguma deidade, tomem sempre cuidado para não serem etnocêntricos, achando que qualquer conceito seu se aplica a qualquer povo ou cultura.

 

Conclusão

Ver como a vida é bela, simples e mágica é o que Ela ensina e me mostrou no período que esteve comigo. A achei bastante suave e meiga. Ela me disse que tudo se resolveria em seu devido tempo e sempre quando algo surgia em minha vida eu percebia Sua influência mágica deixando tudo ajeitado. Foi um período realmente de bastante boa fortuna pra mim.

Contudo, foi preciso muito esforço para eu não deixar de fazer minhas obrigações, porque nós humanos temos a tendência de nos acomodarmos quando sabemos de um resultado final. Porém, é como diz o ditado: “Confie em Deus, mas amarre seu cavalo”. Não espere que a Deusa faça tudo por você. É preciso também fazer sua parte e quando me dei conta disso tive que correr com algumas coisas para que desse tempo de fazer tudo. Fiquei também com essa lição extra.

Enfim, bela, suave, mágica e meiga. É como eu poderia adjetivar Pajau Yan, também conhecida como a Dama da Lua.

Ensaio fotográfico inspirado em Pajau Yan

bottom of page